Quem foi Ismail Haniyeh, o líder do Hamas que faleceu em Teerão?


Ismail Haniyeh, o líder político do movimento palestino Hamas, faleceu na madrugada desta quarta-feira em Teerão, supostamente devido a um ataque atribuído a Israel. O ex-primeiro-ministro palestino, com 62 anos de idade, residia exilado no Catar há vários anos.

A morte de Haniyeh foi amplamente condenada por diversas vozes, considerando-o uma figura moderada dentro do Hamas, e aumentando temores de que o assassinato do líder do departamento político do Hamas possa intensificar o conflito no Oriente Médio.

Conhecido também como "Abu Al-Abd", Ismail Haniyeh era uma figura proeminente no cenário político e diplomático do Oriente Médio e membro destacado do Hamas desde 1987, liderando o departamento político do grupo a partir do exílio no Catar nos últimos anos.

Haniyeh iniciou sua atuação como ativista estudantil na Universidade Islâmica de Gaza e ingressou na vida política aliando-se estreitamente ao fundador do Hamas, o sheikh Ahmed Yassin. Durante a Primeira Intifada, ele integrou o grupo paramilitar e foi preso por três anos em 1989, quando Israel reprimiu essa revolta palestina inicial. Libertado em 1992, foi exilado para uma área isolada entre Israel e o Líbano junto com outros líderes do Hamas.

Ao longo dos anos, Haniyeh foi detido várias vezes por seu envolvimento na Primeira Intifada em Israel antes de deixar Gaza definitivamente, ascendendo como um líder importante do Hamas. Reconhecido como um líder pragmático e moderado, Haniyeh passou seus anos de exílio alternando entre a Turquia e o Catar.

A partir de 2004, Ismail Haniyeh se tornou membro da equipe de "liderança coletiva" do Hamas, após os líderes anteriores, o sheik Ahmed Yassin e Abdel Aziz Rantisi, serem mortos por Israel. Em 2006, ele foi eleito primeiro-ministro palestino, após a surpreendente vitória do Hamas nas eleições parlamentares, ganhando maior visibilidade e atenção internacional.

Onze anos depois, Haniyeh substituiu Khalid Mashael como chefe político do Hamas e logo em seguida foi declarado terrorista procurado pelos Estados Unidos. Na época, a Administração de Donald Trump buscava interromper seu acesso a recursos financeiros internacionais.

Como muçulmano sunita, Haniyeh desempenhou um papel crucial no fortalecimento da capacidade de combate do Hamas, cultivando laços com o Irã xiita, que apoia o grupo. Durante sua década como principal líder do Hamas em Gaza, Israel acusou o grupo de desviar ajuda humanitária para sua ala militar paramilitar.

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Embora adotasse uma retórica mais dura em público, Haniyeh era considerado por muitos diplomatas como um moderado em comparação com os membros mais radicais do grupo apoiado pelo Irã dentro de Gaza.

Durante o agravamento do conflito no Oriente Médio com o ataque dos combatentes do Hamas em solo israelense em 7 de outubro do ano passado, Ismail Haniyeh se destacou como negociador do Hamas e teve um papel crucial nas mediações para um cessar-fogo em Gaza.

Mesmo mantendo boas relações com líderes de diversas facções palestinas, incluindo rivais do Hamas, Haniyeh enfrentou críticas internas dentro do grupo paramilitar. Nos meses recentes, ele realizou missões diplomáticas no Irã e na Turquia, encontrando-se com os presidentes dos dois países. Autoridades israelenses responsabilizaram Haniyeh por falhas nas negociações de paz e na libertação de reféns no conflito israelo-palestino.

Além disso, a liderança de Haniyeh foi questionada por alguns membros do Hamas, que criticaram a falta de conexão entre suas ações e a realidade no terreno durante a guerra entre Israel e o Hamas.

A notícia da morte de Ismail Haniyeh veio após o Estado de Israel confirmar a morte do chefe militar do Hezbollah, Fuad Shukr, um dos principais líderes próximos do movimento xiita libanês liderado por Hassan Nasrallah. Esta não foi a primeira vez que a residência de Haniyeh foi alvo de ataques.

Desde o início do conflito no Oriente Médio, Ismail Haniyeh e sua família foram alvos várias vezes. Em abril deste ano, a polícia israelense deteve uma de suas irmãs sob suspeita de ter conexões com membros do movimento paramilitar. No mesmo mês, três dos filhos e quatro netos de Haniyeh foram mortos em ataques aéreos.

Na ocasião, o Exército de Israel afirmou que os filhos eram "militantes do Hamas" e, portanto, foram "eliminados". Em resposta, o líder político do Hamas informou à imprensa que ficou sabendo do ataque que vitimou sua família enquanto visitava palestinos feridos que haviam sido transferidos para o Catar.

Agradecendo pela "honra conferida pelo martírio de meus filhos e netos", Haniyeh assegurou que isso não afetaria a postura do Hamas nas negociações com Israel para um cessar-fogo em Gaza.

"O inimigo está iludido se pensa que atacar meus filhos, no auge das negociações e antes de recebermos uma resposta, fará o Hamas mudar de posição", declarou na época à Al Jazeera. "O sangue dos meus filhos não é mais valioso do que o sangue de nosso povo."

No último mês de maio, o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra ele por supostos crimes de guerra durante o conflito.

Ismail Haniyeh, residente no Catar, encontrava-se no Irã para participar da posse do novo presidente e tinha programado um encontro com o líder da República Islâmica do Irã quando foi assassinado na noite de terça-feira.

De acordo com alguns especialistas, o falecimento de Haniyeh poderia representar um golpe significativo para o Hamas, especialmente em meio ao aumento das tensões no Oriente Médio e crescentes preocupações sobre o futuro das negociações entre Israel e o Hamas. Leia mais...

Fonte: RTP notícias

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