Xanana Gusmão levanta a crítica a um mundo que "financia guerras, mas ignora as crianças".

Xanana Gusmão levanta a crítica a um mundo que "financia guerras, mas ignora as crianças".
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Xanana Gusmão levanta a crítica a um mundo que "financia guerras, mas ignora as crianças".

Hoje, nas Nações Unidas, o primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, fez críticas a determinadas ações e políticas internacionais que priorizam o lucro e o poder em vez da dignidade humana. Ele questionou a realidade atual de um mundo que "sustenta guerras, mas não cuida das crianças".

Xanana Gusmão proferiu um discurso na "Cimeira do Futuro", realizada em Nova Iorque, onde traçou um paralelo entre a atualidade e o período de fundação da ONU em 1945. Ele recordou que a missão da organização na época era promover a paz global, defender os direitos humanos e estimular o desenvolvimento.

Entretanto, Gusmão apontou que hoje o mundo está imerso em "desordem, incerteza, instabilidade e conflito". 

"Os países em desenvolvimento e as pequenas nações insulares aguardam soluções mais adaptáveis, inclusivas e responsáveis", afirmou. Ele destacou a insuficiência de recursos e financiamento para lidar com os desafios, como a pobreza extrema, insegurança alimentar, crises humanitárias, mudanças climáticas e a degradação ambiental, que colocam em risco a sobrevivência de algumas nações, especialmente no Pacífico.

Durante o seu discurso, dirigido a diversos líderes globais presentes na Cimeira, Xanana enfatizou que os que menos contribuíram para a crise atual são também os primeiros a sofrer, muitas vezes de forma isolada. 

"Esses países são vítimas de políticas e ações internacionais egoístas que priorizam o lucro e o poder em detrimento da dignidade humana. À medida que a crise se agrava, mais pessoas enfrentam a fome", declarou o primeiro-ministro de Timor-Leste.

"Estamos vivendo em um mundo onde conseguimos sustentar guerras, mas não conseguimos alimentar nossas crianças", indagou.

Durante seu discurso, Xanana Gusmão mencionou o 25º aniversário do referendo que assegurou a independência de Timor-Leste, onde o povo timorense "demonstrou coragem ao votar pela autodeterminação e liberdade". Essa conquista possibilitou que o país se tornasse uma "democracia estável e pacífica, em processo de desenvolvimento".

Ressaltando que "sem paz, não há condições para o desenvolvimento", o líder timorense defendeu também a causa do Saara Ocidental, que "aguarda seu referendo desde 1992, há 32 anos".

"O direito internacional ainda não chegou a esta última colônia na África, que permanece ignorada e esquecida. A comunidade internacional não conseguiu ainda apresentar soluções multilaterais para o futuro da paz em várias nações ao redor do mundo, desde a Palestina até a Ucrânia, do Iémen ao Sudão e na República Centro-Africana, onde as forças de manutenção da paz estão presentes há quase três décadas", destacou.

O primeiro-ministro de Timor-Leste também usou a oportunidade para pleitear uma reforma estrutural do Conselho de Segurança, o órgão mais poderoso da ONU, cujas decisões são vinculativas, mas que "se tornou obsoleto, ineficaz e não representa as realidades atuais", afirmou.

"Uma organização internacional só pode ser considerada legítima se atender às necessidades contemporâneas", avaliou, defendendo a ampliação do número de membros permanentes do Conselho de Segurança para garantir uma maior "representação geopolítica, cultural e econômica, além de legitimidade".

O Conselho de Segurança da ONU, frequentemente considerado ultrapassado, tem sido alvo de demandas de reforma e ampliação ao longo de décadas, com países em desenvolvimento como Índia, África do Sul e Brasil buscando integrar-se aos cinco membros permanentes.

De maneira geral, quase todos os países membros da ONU reconhecem a necessidade de reformar o Conselho de Segurança, mas não há consenso sobre como realizar essa reforma. Várias propostas têm sido discutidas ao longo dos anos, incluindo a ideia de garantir uma representação permanente para a África no Conselho.

“É complicado implementar princípios de transparência, responsabilidade e confiança enquanto nações ricas e desenvolvidas continuam a tomar decisões em nome dos países pobres e em desenvolvimento”, afirmou Xanana Gusmão, antes de ter seu microfone cortado por exceder o tempo de fala.

Xanana Gusmão foi um dos líderes presentes que fez um discurso na abertura da "Cimeira do Futuro", logo após a aprovação de três acordos históricos destinados a promover um futuro melhor para a humanidade: o "Pacto para o Futuro", o "Pacto Digital Global" e a "Declaração sobre as Gerações Futuras".

Fonte: Mundo ao Minuto

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